Tatlin’s Whisper #6 ,versão de Havana (2009) – Tania Bruguera

Tatlin’s Whisper #6 ,versão de Havana (2009) – Tania Bruguera

O direito ao livre discurso é parte da democracia. Poder expressar suas opiniões e pensamentos, desde que não provoquem mal aos outros, é uma premissa da sociedade. Porém, em muitos momentos, o direito à liberdade de expressão é suprido, principalmente em governos soberanos. Ditaduras, de esquerda ou de direita, parecem apagar as vozes dos sujeitos que, teoricamente, representam e protegem. Quando será o nosso momento de expressão?

Tatlin’s Whisper #6 é a versão do trabalho de Tania Bruguera realizado em Havana. Uma performance participativa que só ocorre com o engajamento ativo do público. Composta por um pódio, um microfone, um pomba branca e dois performers trajando roupas militares, o público é convidado para subir no palanque e falar o que desejar, por um minuto. O tempo é controlado mas, dentro daqueles sessenta segundos, qualquer coisa pode ser falada, seja sobre sua vida, seus desejos ou críticas profundas ligadas ao governo. A construção do espaço para a fala livre remete ao discurso realizado por Fidel Castro após a vitória da revolução. Enquanto discursa, uma pomba branca repousa em seus ombros. Sua fala é de esperança, de um futuro sonhado, de um vislumbre de esperança do que está por vir. 

O relato sobre a experiência proposta por Bruguera, dentro da Bienal de Havana, é que nos primeiros momentos houve um grande silêncio: o que falar no microfone? Após alguns instantes de incômodo, os participantes se sentiram à vontade para expressar falas políticas e, algumas, em discordância com o governo da época. Durante 41 minutos os participantes não foram censurados, podiam amplificar suas vozes no microfone para que os demais escutassem. Ao final, a artista agradeceu a todos que participaram do ato performático.

Importante mencionar que na época da realização do trabalho, a livre expressão não era algo dado em Cuba. Existe sim censura, falta de liberdade para discordar das políticas implementadas. Porém, quando o palco é um trabalho do campo das artes, o ativismo se transforma em poética e consegue se mascarar dentro do fazer artístico. Não que as artes sejam livres de expressar quaisquer opiniões, há censura no meio e trabalhos e artistas sofrem consequências e, até, boicotes públicos. Porém, por vezes a brecha surge, o trabalho pode acontecer – como foi esse caso – e, por quarenta e um minutos uma catarse pública, em que palavras eram despejadas no microfone aconteceu. 

Para saber mais da artista, acesse: http://www.taniabruguera.com/

Colírio por Julia Baker



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