The Parthenon of Books (1983 / 2017), Marta Minujín

The Parthenon of Books (1983 / 2017), Marta Minujín

No Romance Fahrenheit 415, Guy Montag é um bombeiro em um futuro não definido em uma cidade norte-americana. Seu trabalho não é apagar e sim iniciar fogo, sua função é queimar livros e as casas em que foram encontrados. Ler ou possuir livros é proibido, caso alguém seja encontrado com um livro, é detido e levado para um hospício. O nome do livro se refere a exata temperatura na qual o papel queima. Na história, não importa o livro, importa o que eles simbolizam e que todos devem ser privados: conhecimento, curiosidade, aprendizado. Não posso dizer que governos chegaram a nos privar completamente do hábito da leitura mas, muitos nos privaram da escolha da leitura, censuraram o conhecimento ou histórias consideradas nocivas para seus regimes e desapareceram com tais livros e, até, com seus autores.

A Argentina passou por governos opressores em que livros foram proibidos, trancados em porões para garantir que ninguém os encontrasse. O governo pensava que, ao limitar o acesso, conseguiria conter a população e torná-la mais dócil aos seus desejos. Isso nunca se provou real, seja em situações passadas ou atuais. O desejo de conhecimento e libertação se faz presente, independente da forma de luta escolhida.

Uma semana após a restituição da democracia em seu país, Marta Minujín fez uma instalação com mais de 20.000 livros, todos títulos proibidos durante o período da ditadura. A instalação tinha a forma do Partenon, símbolo da pólis grega e espaço de adoração divina, só que ao invés de pedras, as colunas e estrutura era composta pelos livros. Relações de adoração e proibição estão presentes na obra, principalmente com a escolha da forma que os livros tomaram. O culto aos deuses (sejam gregos ou orixás) foi proibido em diversos períodos quando uma religião – em geral a cristã – se opunha em regiões conquistadas. As pessoas eram obrigadas a deixar suas crenças de lado, criar novas relações de fé e ignorar seus desejos. A proibição da leitura segue a mesma lógica de dominação, com uma mentalidade que forçar uma realidade faz com que outras não existam.

A instalação em 1983 se tornou um marco de um novo período na Argentina. Ao final, os livros foram distribuídos para bibliotecas e para pessoas que foram visitar a obra. 

Em 2017, Marta repetiu a obra na Documenta de Kassel com um volume muito maior de livros, 250.000 exemplares. O monumento foi instalado na Friedrichsplatz, espaço que décadas antes foi palco de uma fogueira de livros proibidos pelo nazismo. 

O fogo queima mas não apaga a história nem o desejo de conhecimento. Por mais que, atualmente, enfrentemos fogueiras semelhantes ao que governos fascistas desejavam, nosso desejo pelo conhecimento não se apaga, segue vivo e em busca de mais e mais livros.

Colírio por Julia Baker



Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *