Mapa das Bananas (c.1997), Moisés Barrios

Mapa das Bananas (c.1997), Moisés Barrios

Quando a banana é a protagonista da conversa, sempre estranham se alguém mostra desprezo por seu gosto. “Como assim? É uma fruta tão versátil!”, seus apreciadores já falam. Para além de suas qualidades nutricionais, a banana é um personagem central na história de exploração e colonização da América Central e Latina. Seu plantio como produto de exportação para os Estados Unidos e Europa fez com que países como a Guatemala, nação de Moisés Barrios, fossem conhecidos como República das Bananas. As relações produzidas pelo comércio das frutas foram de extrema exploração e levaram até a morte de funcionários por exigirem melhores condições de trabalho em um evento que ficou conhecido como o Massacre das Bananeiras na Colômbia. Dentre os pedidos, salta a atenção serem pagos em dinheiro ao invés de cupons. A United Fruit Company, empresa dominante do mercado de bananas na região, se juntou ao governo da região e, acusando os grevistas de comunismo, permitiu o uso da força armada.

O breve panorama das relações da banana traçado faz com que a fruta se torne um símbolo para além de suas vitaminas, ela faz parte do histórico das Américas, do imaginário das nações centrais e do Sul assim como reforça relações de trabalho exploratórias. O artista  guatemalteco Moisés Barrios investiga, desde 1997, a iconografia e a história das bananas na região. Transforma sua estética e histórias em desenhos e ilustrações, nas quais não apenas a banana mas representações dela são questionadas, principalmente filmes e marcas que levam o nome da fruta, Banana Republic ou o filme de Woody Allen, Bananas. 

A obra selecionada para o Colírio remete ao trabalho do artista uruguaio Joaquín Torres García, América Invertida (1943). No lugar do mapa da América do Sul, um cacho de bananas. As demais informações da obra original continuam no desenho, a linha do Equador, o Polo Sul, a água, o sol.. As bananas são os países, a fruta se torna a representante de todas as nações de uma maneira já conhecida, o apelido Repúblicas das Bananas não é à toa. O artista critica o imaginário criado sobre essas terras de abundância onde só existiam “macacos e bananas”, onde a ordem democrática parecia tardar, onde a principal imagem midiática, por muitos anos, era de uma mulher com bananas em sua cabeça. 

Colocar as bananas enquanto mapa nos faz pensar sobre os estereótipos criados para a região e revisita a história da banana. Gostando ou não, temos banana para dar e vender.

Colírio por Julia Baker



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