¿Quién puede borrar las huellas? (2003), Regina José Galindo

¿Quién puede borrar las huellas? (2003), Regina José Galindo

Quem pode apagar os rastros é o nome da performance que Regina José Galindo realizou em 2003. Ela fez, a pé, o percurso entre o Tribunal Constitucional até o Palácio Nacional da Guatemala (residência do presidente do país). Em sua caminhada, carregava uma bacia com sangue humano na qual mergulhava seus pés para que seu caminho entre os dois espaços ficasse marcado, visível a cada trecho percorrido. Seus pés descalços criavam um rastro, simbolizando as inúmeras vidas perdidas durante a Guerra Civil que se estendeu por décadas e que são perdidas por acordos e políticas públicas que fortalecem certos indivíduos e não se importam com a morte de tantos outros.

Sua caminhada simbolizava um protesto contra a candidatura para presidência de Efraín Ríos Montt, um dos piores presidentes que a Guatemala teve. Anteriormente a candidatura no ano de 2003, ele foi presidente por dezoito meses entre os anos de 1982 e 1983, um período em que a desigualdade social se intensificou assim como a perseguição aos opositores do governo ditatorial exercido por Montt. Para além desse período, ele seguiu em diversos cargos públicos no país, foi deputado e até presidente do congresso em 2004. Após anos atuando na vida política, foi condenado por crimes contra a humanidade e pelo genocídio da população indígena da etnia ixil. Apesar de uma condenação severa, sua sentença foi anulada e, mesmo com um novo julgamento alguns anos depois, ele não foi condenado a servir alguma sentença devido a sua idade avançada. 

Os rastros de matança não foram apagados da vida dos familiares de quem sofreu com as políticas assassinas de Montt, porém a decisão do Estado parece mostrar um desejo de esquecer, de apagar o capítulo da história e não promover justiça para os que ficaram. Galindo quer visibilizar mais uma vez a dor e sofrimentos causados durante a guerra e que esse personagem teve grande destaque. A artista usa a performance como seu principal suporte, seu corpo é sua tela e expõe as mazelas de uma sociedade violentada por mais de três décadas. O caminho entre a morada do presidente e a corte, local em que leis e julgamentos fazem parte do cotidiano, revela como os sujeitos que vivem nesses espaços criam acordos para encobrir falhas ou massacres cometidos contra a população guatemalteca.

Ainda me pergunto sobre os rastros que são apagados, os corpos que seguem desaparecidos devido a essa política da morte. A performance marcou o chão com sangue, um chão que já viu sangue em outros momentos e segue absorvendo esse líquido, fazendo-o desaparecer para que tentemos esquecer as violências diárias justificadas por decretos ou leis aprovadas.

Para saber mais sobre a artista, acesse: www.reginajosegalindo.com

Colírio por Julia Baker



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