Movement (2021), Sheena Rose

Movement (2021), Sheena Rose

O que se espera de uma mulher negra caribenha? Que ela se comporte de uma certa maneira? Se vista com certas roupas? É estranho, mas criamos imagens a partir de um imaginário, ou falta dele, sobre indivíduos e nações que não temos conhecimento. A região do Caribe parece cair nessa armadilha. Existe uma fantasia de água, sol e festa que rondam os países dessa região. O turismo criou uma imagem falsa que tenta maquiar as mazelas deixadas pela colonização. Além de homogeneizar uma região plural, no senso comum o Caribe se é formado por apenas algumas ilhas com resorts e algumas tantas outras que não devem ser visitadas por questões políticas. 

Sheena Rose é uma artista de Barbados que imprime no seu trabalho suas identidades, uma mulher negra caribenha. Em sua obra Cognitivo, ela apresenta quatro personagens femininos. Apenas uma das figuras tem seu rosto descoberto, as outras seguem suas atividades sem enxergar o que fazem pois seus cabelos escultóricos cobrem seus rostos. Todas se apresentam com vestidos que remetem ao momento da chegada dos invasores ao Caribe, parecem pertencer a uma outra época. Parecem estar conversando mas, no emaranhado de seus cabelos, um bingo infinito acontece. Apesar da cena irreal, algumas questões aparecem quando estamos diante das imagens. Pensando que as figuras remetem ao século XVII ou XVIII , por seus trajes, é estranho que não possamos ver suas feições. Na época em questão, as pinturas de retratos ou mesmo do cotidiano revelavam os rostos, eram simulações do real. Por que então a identidade dessas mulheres aparece apagada pelo cabelo, um símbolo muito ligado ao universo feminino? Envoltas em um cabelo que esconde seus rostos mas parece não reprimir seus pensamentos pois é dele que sai o maquinário deste bingo irreal. Seríamos apenas números a serem sorteados? Somo mais um lote?

As mulheres de Barbados, ou do Caribe em geral, parecem se tornar mais uma generalidade em um cartaz de turismo. Assim, o que importa representar seus rostos, se são apenas mais uma quantidade, um número ou um prêmio a ser consumido? Quem são essas mulheres? É preciso, para um futuro sadio, dar voz e permitir que elas se expressem. Rose coloca esse desejo em evidência e joga de volta a pergunta: qual é a identidade da mulher caribenha por trás de sua roupa e seu cabelo?

Para saber mais da artista, acesse:www.sheenaroseart.com

Colírio por Julia Baker



Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *