Atadademanos (2010), María José Machado Gutiérrez

Atadademanos (2010), María José Machado Gutiérrez

Quantas vezes somos caladas ou atadas, simbólica e fisicamente, por sermos mulheres? Não é nosso sexo o problema mas, como fala Lynda Nochlin, são as instituições e a educação que, através de suas normas e condutas já vão determinando quais espaços podemos ocupar. Os movimentos feministas colocam essa pauta em evidência e lutam para que mudanças de paradigmas se tornem realidades, porém ainda temos um longo caminho pela frente, muitos padrões para serem mudados e cabeças a serem transformadas.

Enquanto isso resistimos e criamos rupturas nessa lógica cruel. María José Machado Gutiérrez já foi vítima da opressão e violência sofrida pelas mulheres. Em sua biografia relata que seu padrasto destruiu toda a sua produção artística e, após esse ato de violência, ela viu em seu corpo uma mídia potente e na qual as marcas de gênero eram visíveis e matéria para suas obras. 

Nosso corpo nos pertence? 

O corpo feminino por muito tempo foi visto como posse, posse do pai e depois posse do marido. Ia passando de mão em mão, sempre como um objeto domesticado pelo masculino. Abusado e desprovido de voz. Hoje quem nos possui é o Estado, quando cria leis as quais a mulher não tem autonomia sobre seu corpo. Em esferas macro ou no nosso lar, a mulher ainda é constrita, a regras, leis, códigos sociais… Seguimos amarradas. 

Em sua vídeo-performance, atadademanos, Gutiérrez enlaça suas mãos, sutura uma na outra, impedindo seu movimento. Em suas unhas, ela utiliza o texto de Nochlin para comentar o problema do gênero e das instituições e educação, como a mulher é tratada a partir das normas sociais impostas tantas vezes.

A falta de mobilidade de suas mãos simboliza os momentos em que não podemos nos mexer, em que, por medo, não nos impusemos, tivemos que seguir o que nos era colocado como nosso lugar, como nosso papel.

Ainda seguimos de mão atadas, muitas vezes por forças maiores, mas os nós vão se afrouxando.

Para saber mais sobre a artista, acesse: www.mariajosemachadogutierrez.com

Colírio por Julia Baker



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