We Can’t Breathe (2020) – Maria Adela Diaz

We Can’t Breathe (2020) – Maria Adela Diaz

Eu não consigo respirar. Essa foi a frase que George Floyd falou repetidas vezes enquanto um policial colocava seu corpo em cima do pescoço de Floyd. Após sua morte, protestos aconteceram ao redor do mundo. Entre os cartazes com frases sobre racismo e desigualdade, alguns tinham essa frase escrita: Eu não consigo respirar. Concomitante aos protestos, a pandemia de Covid-19 seguia assolando o globo. Outros tantos não conseguiam respirar vítimas de um vírus que pouco se sabia sobre. Junto com o desconhecimento sobre o vírus, sistemas de saúde colapsados mostravam que o direito a respirar (ter acesso a tratamento, a tanque de oxigênio) também é tangenciado por classe social. No Brasil é fácil perceber a desigualdade entre estados. Lembremos do caso desesperador de Manaus em que as pessoas com Covid estavam morrendo pois não havia cilindros de oxigênio suficientes. 

Vivemos anos sufocantes. Prendemos o ar constantemente com medo. Medo de não ter um trabalho no dia seguinte, medo de não conseguir comer na semana que vem, medo de não sobreviver. As incertezas tiram nosso fôlego, nos deixam em um estado de alerta constante.

Esse estado virou lugar comum durante a pandemia, seguimos prendendo o ar, com o uso de máscaras, face shields e panos, sempre respirando atentamente. E, até nos espaços nos quais poderíamos soltar o ar com gosto, inspirar profundamente e expirar aliviados, fomos privados ou melhor, privadas. Coloco no feminino pois, durante a pandemia, o número de casos de violência doméstica contra mulheres subiu exponencialmente. Mulheres sofreram abusos físicos e psicológicos nas mãos de seus “parceiros”. Não podiam respirar dentro de suas casas. Prendiam o ar e seguiam em frente, enfrentando abusos seguidos pois, muitas vezes, não tinham a opção de sair de casa.

We can’t breathe foi uma obra criada durante a pandemia pensando nessas mulheres. Mulheres que não conseguem ter voz ou o ar, mulheres abusadas diariamente por quem deveria lhes dar alento. A artista guatemalteca Maria Adela Diaz se coloca em um plano fechado, com um pedaço de plástico envolvendo sua cabeça. Com dificuldades de respirar, segue no vídeo tentando recuperar seu ar. No plástico aparecem palavras como ilegal, bitch (puta), crazy (maluca), entre outros adjetivos direcionados frequentemente para as mulheres. Diaz passa a duração do vídeo tentando respirar, as palavras negam o ar, a envolvem, tapam sua boca, suas narinas, ela não tem como recorrer a uma outra alternativa, segue sendo oprimida, tendo seu direito de respirar negado. Alegoria com a situação das mulheres que sofrem abusos.

Nós não conseguimos respirar e quando conseguiremos? 

Para saber mais da artista, acesse: https://mariadeladiaz.com/

Colírio por Julia Baker



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