Sugar/Bittersweet (2010) – Maria Magdalena Campos-Pons

Sugar/Bittersweet (2010) – Maria Magdalena Campos-Pons

Sensação estranha relembrar as aulas de história nos tempos de colégio. Aprendemos sobre os ciclos econômicos do Brasil colônia como se fossem mais uma etapa do país, um momento natural, que acontecia pois o solo era fértil e pronto a ser “aproveitado”. Ciclo do pau-brasil, ouro, açúcar, café, algodão e borracha. Aconteceram misturando explorações, não apenas no solo fértil mas de pessoas escravizadas, negros e indígenas, retiradas de seus lares e obrigadas a viverem em uma lógica de trabalho e torturas cujo único fim era a morte. 

Não há como não pensar no Brasil e nessas relações quando nos deparamos com o trabalho da artista cubana Maria Magdalena Campos-Pons, Sugar/Bittersweet. No trabalho, a artista fala de seu país, Cuba e as relações de poder construídas a partir do comércio de açúcar, porém tal comércio foi presenciado em outros países da América Latina e Caribe com intensidades similares e, por isso, não consigo deixar de relacionar com o Brasil. 

Campos-Pons nasceu na cidade de La Vega, cidade com um histórico ligado às plantações de cana de açúcar. As suas memórias afetivas moldam a obra aqui apresentada. Representações de açúcar não processado envolvem lanças provindas do continente africana que descansam em pequenos bancos. A estrutura simboliza o poder criado a partir da comercialização desse bem. Afinal, quem se beneficia das plantações e venda de tal produto? Não há dúvida que o país não vê o retorno gasto com o suor dos trabalhadores nas plantações. 

A violência do capitalismo em torno do “trade” do açúcar é reproduzida nas relações raciais no país. A escolha das cores dos açúcares e vidros não processados é propositalmente associada a como as pessoas, em Cuba, são reconhecidas pela sua tonalidade de pele: branco, mulato e negro. Qual é associado com maior pureza? A violência do racismo é reconhecida no açúcar, suas cores e sua produção reproduzem relações coloniais de dominância e abuso. 

Apesar de adocicar a comida, o sabor agridoce da história do açúcar predomina na obra. 

Colírio por Julia Baker



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