Bitter Sweet – Hershey’s(2015) – Minerva Cuevas

Bitter Sweet – Hershey’s(2015) – Minerva Cuevas

O cacaueiro é nativo do México. A árvore foi domesticada e seu cultivo se expandiu pela América Central e do Sul muito antes da invasão europeia. O fruto, cacau, era usado não apenas como alimento mas como moeda na região. Os astecas acreditavam que Quetzalcoatl, deus da sabedoria e do conhecimento, os havia presenteado com o cacau, assim a colheita e o consumo do alimento eram realizados junto com cerimônias típicas daquela sociedade. Com a invasão espanhola no México e regiões, o cacau passou a circular em outras partes do mundo, foi levado para além mar e assim a criação do chocolate começou a se moldar. Mas a cultura do cacau é revestida de mortes e dominação, um exemplo das relações coloniais impostas no território americano e africano.

O cultivo do cacau, em muitos lugares, ainda segue uma lógica exploratória, com relatos de trabalho escravo infantil conforme revelou um documentário na rede britânica BBC em 2000. Os trabalhadores do cacau também sofrem com baixos salários e muitos horas diárias de trabalho. O comércio do cacau segue as regras de um capitalismo selvagem no qual a divisão justa quase nunca existe e os lucros são concentrados apenas nas mãos dos grandes empresários. Fora que, aos países produtores do fruto não é destinado o melhor cacau, esse segue para a Europa, para a produção de chocolates de boa qualidade. Aos países produtores é destinado outro cacau, de pior qualidade e importado de outros fabricantes que são injetados com muito açúcar para disfarçar a qualidade do cacau e garantir o consumo pela população.

Em sua obra Bitter Sweet – Hershey’s, a artista mexicana Minerva Cuevas, coloca em evidência a problemática da produção do chocolate. Desenvolvido para a exposição Feast and Famine (Banquete e Fome) na qual a artista explora o cacau em suas relações com o capitalismo, sociedades pré-colombianas e a relação canibal que o consumo provoca, a obra questiona o que estamos ingerindo quando adquirimos um chocolate produzido em massa para o largo consumo.

O chocolate explode e destrói a sua embalagem. Por baixo da guloseima adocicada, percebemos as imagens de espanhóis torturando, esquartejando e devorando povos originários. Na imagem também se faz presente um cacaueiro no canto esquerdo, símbolo da riqueza desejado e roubada pelos colonizadores. Na embalagem do chocolate, vemos um breve texto que remete à exploração de corpos e corpas pela lógica da produtividade e consumo. 

Quantas identidades foram apagadas? Que tipo de consumo humano é provocado por uma sociedade guiada pelo consumo? Cuevas questiona as relações atuais de exploração e colonização, utilizando o chocolate como matéria-prima e problematizando marcas que permeiam nosso cotidiano e são consumidas sem grandes questionamentos. Afinal, qual chocolate consumimos? Quais são as marcas mais desejadas no supermercado?

Para saber mais da artista: https://minervacuevas.org/

Colírio por Julia Baker



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