Asamble (2016) – Amalia Pica

Asamble (2016) – Amalia Pica

Reunião. Sentar e conversar sobre diferentes assuntos parece ser uma prática que fazemos desde que somos pequenos. No maternal sentamos em roda, fazendo brincadeiras, cantando canções. Ao longo da vida escolar, continuamos a sentar em rodas, dependendo da matéria ensinada a disposição dos corpos até se altera mas, em algum momento nos reunimos em uma roda para trocar. Mesmo na vida adulta, em conferências ou momentos informais, estar em roda nos acompanha. No formato circular conseguimos olhar nos olhos de todos que participam, a distinção hierárquica se dilui mais facilmente, não há a separação que um professor impõe quando pede para as cadeiras estarem viradas para um quadro de giz. A roda parece trazer igualdade, união.

A artista argentina Amalia Pica utiliza o conceito de uma assembleia, um encontro de corpos para desenvolver seu trabalho Asamble. A performance convoca diferentes corpos a participar. Em um espaço público, cada participante leva uma cadeira e se inicia a intenção de se formar uma roda. Todos vão colocando suas cadeiras no lugar, a forma geométrica começa a aparecer, porém, antes que a roda se feche, alguém se levanta e muda de lugar, cria uma nova assembleia em outro espaço e os demais seguem. O encontro nunca se concretiza pois o assentamento de corpos nunca é finalizado. O nome da obra revela tal intenção ao ser a palavra Assembleia sem algumas letras. Ao mesmo tempo que a ação nunca acontece, ela se mistura com a vida do espaço público, não parece causar grande estranhamento, a praça é um espaço de corpos ativos, circulantes que andam e se dispersam.

Mesmo que, na obra, o encontro e a troca estejam sempre sendo interrompidos, a artista cria um senso de comunidade entre as pessoas que realizam sua obra. Elas se encontram anteriormente, realizam ensaios, combinam a coreografia. A partir da cumplicidade dos corpos, a ação pode ser feita. Ação inacabada e sempre interrompida. Simboliza um corte, palavras que poderiam ser ditas mas, porque temos que nos mover ou porque não conseguimos nos organizar, nunca saem da garganta.

A obra promove uma ampla discussão sobre o senso de comunidade e o encontro. E nos faz perguntar: quando a roda irá se fechar para começarmos a conversar?

Colírio por Julia Baker



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