Malabarismo Monumental (2011) – Alejandro de la Guerra

Malabarismo Monumental (2011) – Alejandro de la Guerra

2020 foi um ano singular, as incertezas pareciam pipocar a cada dia que passava. Incertezas relacionadas a um vírus desconhecido, a vida, ao trabalho e as relações que o futuro iria permitir. Ao meio de um caos sanitário, o assassinato de George Floyd por policiais norte-americanos prendeu a atenção do mundo. Mesmo com o desconhecimento do vírus que assolava o globo, muitos saíram às ruas para protestar e mostrar sua revolta contra o racismo que leva a mortes quase diárias, seja no gueto norte-americano ou na favela carioca. Entre os protestos, um ato revolucionário atraiu os olhares de uma imprensa curiosa: a derrubada de estátuas.

As estátuas derrubadas durante os atos representavam “heróis” da colonização, homens que enriqueceram devido ao tráfico de pessoas escravizadas e da estrutura de desigualdade imposta na era colonial e que se mantém até os dias atuais. Os símbolos precisavam cair. Entretanto, o movimento de derrubada de estátuas que mal representam a história começou apenas nesse período. Muitos países, principalmente os colonizados, já exigem uma revisão dos monumentos públicos espalhados por parques e praças. Queremos perpetuar o culto a símbolos de personagens de uma história cuja versão é apenas a dos opressores? Histórias precisam ser mostradas e novos heróis precisam ser apresentados.

Enquanto essa revisão ainda é posta em prática, seguimos nos deparando com estátuas de personalidades que, provavelmente, a maioria dos passantes não faz ideia de quem sejam. Por que o desejo de perpetuar em bronze sujeitos? As estátuas, em especial, as espalhadas pela cenário urbano da rua criam relações não apenas com o espaço em que estão instaladas como com os passantes, seja porque devem desviar ou porque tem um encontro diário com esses símbolos. Ao mesmo tempo que se fazem presentes em nossas vidas, são símbolos que refletem uma estrutura de poder, pois, além de serem colocadas em posições acima do olhar de uma pessoa de altura mediana, também existem regras não ditas de não se tocar ou interagir com as estátuas. Replicam a estrutura de sagrado do museu, onde não podemos tocar nas obras e assim impõe seu poder através de mecanismos que nem percebemos imediatamente. 

Alejandro de la Guerra subverte a relação com as estátuas ao realizar sua obra. Ele interage com os monumentos, em posições de confronto ou que provocam humor. O artista coloca seu corpo em relação com as obras, provoca uma quebra na norma não escrita entre interação com esses heróis históricos. Alejandro questiona a instalação das obras ao forçar uma relação direta. Ele deita, senta, toca nas estátuas, elas perdem seu lugar de símbolos inalcançáveis, se tornam matéria, o bronze ganha mais densidade e o que ele representa, leveza.

O artista nicaraguense questiona os símbolos encontrados nas ruas mas, ao invés de derrubá-los fisicamente, provoca uma queda do imaginário sobre os “heróis” ao provocar uma relação questionadora e de comicidade. 

Saiba mais sobre o artista, acesse: www.alejandrodelaguerra.com

Colírio por Julia Baker



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