Muñecas (2004), Paz Errázuriz

Muñecas (2004), Paz Errázuriz

Fechar os olhos para situações não as faz desaparecer, porém é um mecanismo muito utilizado em nossa sociedade. Quando um morador de rua, sentado no chão, estende seu braço pedindo dinheiro ou apenas está existindo naquele espaço, muitos escolhem não olhar, virar o rosto para o outro lado ou desviar o olhar para uma paisagem que parece mais conveniente. Isso se repete com outros indivíduos marginalizados pela sociedade. Não olhar para esquecer. 

A fotógrafa Paz Errázuriz, em seu trabalho, tem a intenção de encorajar as pessoas a olharem, saírem de sua zona de conforto e perceberem aqueles sujeitos ou tópicos para os quais fecham os olhos. 

Em sua série Muñecas ela pede para que olhemos as mulheres que vivem na fronteira entre Peru e Chile. Em uma zona fronteiriça com aparência de abandonada, prostíbulos são espaços comuns nos quais mulheres, para conseguir sobreviver, se tornam trabalhadoras do sexo. Paz encontrou mulheres de diferentes cidades dos dois países. Seu corpo é capital e não apenas explorado pelo sexo mas também pelo narcotráfico ao se tornarem “mulas” (carregadoras de trocas entre as fronteiras). Os prostíbulos parecem perdidos em um tempo indeterminado, seria um passado recente ou um futuro distópico, não temos como precisar. Em meio a um terreno árido, ruínas de uma arquitetura do prazer abrigam corpos em busca de uma saída.

Paz nos faz olhar não apenas a mercantilização dos corpos femininos como as frequentes disputas territoriais impostas pelas linhas invisíveis mas existentes das fronteiras. Linhas que delimitam espaços e forçam trocas nem sempre desejadas. Quem pode passar? Quem pode entrar? Essas perguntas poderiam ser replicadas se vemos os corpos enquanto mercadorias, passíveis de relações de domínio e troca. 

O título da obra parece remeter não apenas a um dos bordéis – uma casa em ruínas registrada por Paz chamada La Casa de las Muñecas – mas também às mulheres por lá encontradas, bonecas que precisam tornar seus corpos uma mercadoria para sobreviver. 

Para saber mais sobre a artista, acesse: www.pazerrazuriz.com

Colírio por Julia Baker



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