9a Editatona Wikipédia: Artes+Feminismos & lançamento do livreto Coletiva NaPupila – artes+feminismos: pesquisas, debates e edições na Wikipédia Lusófona

9a Editatona Wikipédia: Artes+Feminismos & lançamento do livreto Coletiva NaPupila – artes+feminismos: pesquisas, debates e edições na Wikipédia Lusófona

A NaPupila Coletiva Curatorial, através do apoio da Fundação Wikimedia e da organização ArtandFeminism, convida você a integrar o evento online da 9a Editatona Wikipédia: Artes+Feminismos & lançamento do livreto Coletiva NaPupila – artes+feminismos: pesquisas, debates e edições na Wikipédia Lusófona. Sob o tema Arte […]

Nossa Senhora Comparecida (2019), Silvana Mendes

Nossa Senhora Comparecida (2019), Silvana Mendes

Primeiro Colírio do ano e, neste mês, nossos drops serão todos de artistas brasileiros. Começamos com uma artista que já participou em um de nossos projetos, a Editathona Artes+Feminismos | Arte e Arquivo – desdobramentos da prática decolonial em julho de 2020. A imagem cedida […]

Obstruction of the South II (1974), Horacio Zabala

Obstruction of the South II (1974), Horacio Zabala

Em dezembro propomos um Colírio por dia. A ideia era produzir críticas curtas com dosagem rápida, como um colírio. Ao longo do mês fizemos um recorte amplo mas focamos em obras de artistas nascidos ou que produzem na América Latina e Caribe. Não focamos em um recorte temporal ou uma técnica específica, queríamos investigar essa região enxergada como homogênea aos olhos dos outros mas que compartilha e difere em muitas questões. Mesmo não falando a mesma língua e com as particularidades de cada nação, as marcas do passado e do presente parecem ecoar em trabalhos e desejos. A exploração do solo e das pessoas marcou a região, os comércios da cana de açúcar, cacau, sexo e banana não foram os mesmo em cada país, mas trataram as pessoas como se fossem um produto a ser descartado após seu uso. Vivemos explorações diferentes mas fomos explorados e continuamos sendo até a última gota de suor. A grande massa de terra ao Sul e, algumas ilhotas pelo mar do Caribe, parecem se confundir e serem definidas como palavras singulares: exótico, violento, sujo ou pobre.

Fechamos o mês retomando, de alguma forma, o primeiro Colírio aqui compartilhado: repensando o mapa e as fronteiras, o que simbolizam as linhas e como a representação da América é tomada por uma nação. Horacio Zabala trabalha com a cartografia desde a década de 1970, época em que seu país, a Argentina, assim como outros da América Latina enfrentavam ditaduras militares extremamente repressoras e violentas. Como eram vistos esses países? Qual imagem eles desejavam passar? Zabala alterava as cartografias, repensava as linhas e espaços criados, ficticiamente, quando éramos colônia para satisfazer acordos entre países europeus. Em sua obra Obstrução do Sul II (tradução livre), um bloco sólido de cor é sobreposto ao mapa da América do Sul. As fronteiras e divisões se mantêm, mas não estão mais tão visíveis, para enxergar os nomes de cada país, as linhas, os rios, é necessário se esforçar, se aproximar cada vez mais do mapa. O Sul existe mas se torna algo turvo, escondido, para que não seja tão perceptível tudo o que lá ocorre. As torturas e a censura da época seguem escondidas por palavras, acordos, por blocos de cor que tentam distrair nosso olhar.

Afinal qual é o Sul que queremos ver ou que desejamos ser? Sempre estaremos condicionados a o olhar do outro, a identidade se forma a partir das relações. Porém repensar e conversar sobre esse Sul nos dado é urgente. Ao se revisitar e construir novas representações dos mapas, rever os momentos históricos cuja versão é unilateral, estamos criando um novo Sul, não dependendo mais da história de nossos caçadores, criando a nossa narrativa. 

Saiba mais sobre o artista, acesse: http://www.horaciozabala.com.ar

Colírio por Julia Baker

Mapa das Bananas (c.1997), Moisés Barrios

Mapa das Bananas (c.1997), Moisés Barrios

Quando a banana é a protagonista da conversa, sempre estranham se alguém mostra desprezo por seu gosto. “Como assim? É uma fruta tão versátil!”, seus apreciadores já falam. Para além de suas qualidades nutricionais, a banana é um personagem central na história de exploração e […]

Muñecas (2004), Paz Errázuriz

Muñecas (2004), Paz Errázuriz

Fechar os olhos para situações não as faz desaparecer, porém é um mecanismo muito utilizado em nossa sociedade. Quando um morador de rua, sentado no chão, estende seu braço pedindo dinheiro ou apenas está existindo naquele espaço, muitos escolhem não olhar, virar o rosto para […]

Aquí, aún hay un corazón que late (2016), Luna Flores

Aquí, aún hay un corazón que late (2016), Luna Flores

A performance começa com um corpo ensacado. Completamente coberto, dentro de um saco de lixo grande, aqueles de muitos volumes que compramos quando estamos passando por obras ou que aparecem nas lixeiras compartilhadas dos prédios. São os mesmos sacos usados, em momentos emergenciais, para cobrir corpos assassinados enquanto a ambulância não chega para levar o corpo para o necrotério. O saco está fechado, disposto em uma rua com passantes por todos os lados. Aos poucos Luna se mexe, seu corpo se revela dentro do saco, por hora seus pés e pernas se tornam visíveis, em outros momentos são suas mãos. Independente de qual parte do corpo escapa do saco, algo é notório, ela quer sair, respirar, se libertar. Aos poucos ela consegue se libertar e começa a interagir com as mulheres que assistiam a performance. Luna entrega pétalas de rosas vermelhas a cada espectadora. 

A performance é feita em tom de denúncia. Quantos corpos femininos já foram ensacados? Quantos corpos femininos foram mortos e desapareceram? Quantos corpos femininos ainda são multilados diariamente? A artista tem como intenção tocar no tema do feminicídio. Em países latinos, em que o machismo estrutural se faz presente diariamente, o assassinato de mulheres por pessoas conhecidas e desconhecidas não é incomum. Muitas vezes acompanhado por outros tipos de violência contra aquele corpo, mães, filhas, irmãs e avós encontram um triste destino: a morte. Uma morte que dilacera a família, que coloca medo em outras mulheres e nos impede de andar nas ruas de noite, sair sozinhas e vários outros comportamentos que fazem parte do convívio em sociedade. 

O coração ainda bate. O título da obra nos faz pensar. Quantos momentos um último suspiro, uma última batida do coração esteve presente amarrada em um saco de lixo? Ou, ainda, mesmo quando o encontro com a morte não ocorre, após socos e pontapés, o coração se mantém vivo, após inúmeras violências sofridas.

A artista disponibiliza seu corpo, se coloca vulnerável nas ruas para criar choque e despertar a consciência sobre o feminicídio. Ela escapa do espaço constrito, seu coração ainda bate. Mas quantas não tiveram tal possibilidade?

Colírio por Julia Baker

Para concebir (1985-1986), Marta María Pérez Bravo

Para concebir (1985-1986), Marta María Pérez Bravo

O corpo feminino é assunto frequente no campo das artes visuais. Pinturas, esculturas e retratos, a imagem da mulher está sempre presente. Porém, como esse corpo é retratado? As musas e deusas são mulheres fictícias que se tornam modelos de mulheres reais. A representação da […]

La pratería, da série La servidumbre (c. 1978-1980), Sandra Eleta

La pratería, da série La servidumbre (c. 1978-1980), Sandra Eleta

Alguns personagens de nosso cotidiano são tratados como invisíveis, seja em nossa sociedade ou na esfera do lar. A roupa passada, o almoço servido, o banheiro limpo, nada acontece simplesmente, são frutos de um labor diário de homens e mulheres que abdicam de seu tempo […]

Tatlin’s Whisper #6 ,versão de Havana (2009) – Tania Bruguera

Tatlin’s Whisper #6 ,versão de Havana (2009) – Tania Bruguera

O direito ao livre discurso é parte da democracia. Poder expressar suas opiniões e pensamentos, desde que não provoquem mal aos outros, é uma premissa da sociedade. Porém, em muitos momentos, o direito à liberdade de expressão é suprido, principalmente em governos soberanos. Ditaduras, de esquerda ou de direita, parecem apagar as vozes dos sujeitos que, teoricamente, representam e protegem. Quando será o nosso momento de expressão?

Tatlin’s Whisper #6 é a versão do trabalho de Tania Bruguera realizado em Havana. Uma performance participativa que só ocorre com o engajamento ativo do público. Composta por um pódio, um microfone, um pomba branca e dois performers trajando roupas militares, o público é convidado para subir no palanque e falar o que desejar, por um minuto. O tempo é controlado mas, dentro daqueles sessenta segundos, qualquer coisa pode ser falada, seja sobre sua vida, seus desejos ou críticas profundas ligadas ao governo. A construção do espaço para a fala livre remete ao discurso realizado por Fidel Castro após a vitória da revolução. Enquanto discursa, uma pomba branca repousa em seus ombros. Sua fala é de esperança, de um futuro sonhado, de um vislumbre de esperança do que está por vir. 

O relato sobre a experiência proposta por Bruguera, dentro da Bienal de Havana, é que nos primeiros momentos houve um grande silêncio: o que falar no microfone? Após alguns instantes de incômodo, os participantes se sentiram à vontade para expressar falas políticas e, algumas, em discordância com o governo da época. Durante 41 minutos os participantes não foram censurados, podiam amplificar suas vozes no microfone para que os demais escutassem. Ao final, a artista agradeceu a todos que participaram do ato performático.

Importante mencionar que na época da realização do trabalho, a livre expressão não era algo dado em Cuba. Existe sim censura, falta de liberdade para discordar das políticas implementadas. Porém, quando o palco é um trabalho do campo das artes, o ativismo se transforma em poética e consegue se mascarar dentro do fazer artístico. Não que as artes sejam livres de expressar quaisquer opiniões, há censura no meio e trabalhos e artistas sofrem consequências e, até, boicotes públicos. Porém, por vezes a brecha surge, o trabalho pode acontecer – como foi esse caso – e, por quarenta e um minutos uma catarse pública, em que palavras eram despejadas no microfone aconteceu. 

Para saber mais da artista, acesse: http://www.taniabruguera.com/

Colírio por Julia Baker

The Parthenon of Books (1983 / 2017), Marta Minujín

The Parthenon of Books (1983 / 2017), Marta Minujín

No Romance Fahrenheit 415, Guy Montag é um bombeiro em um futuro não definido em uma cidade norte-americana. Seu trabalho não é apagar e sim iniciar fogo, sua função é queimar livros e as casas em que foram encontrados. Ler ou possuir livros é proibido, […]