​Scars on Archaeological Skin, 2010 – Betsabeé Romero

​Scars on Archaeological Skin, 2010 – Betsabeé Romero

Escavações arqueológicas nos apresentam objetos e resíduos de um cotidiano passado. Mas, ao procurar o solo atrás de vestígios, o que buscamos são histórias e memórias de nós. Descobrir o que se passou em um tempo passado e querer entender como chegamos nesse agora. Em épocas que o registro era oral ou de uma escrita frágil, o que nos resta é cavar e tentar fazer sentido do que é encontrado. Juntar as peças nem sempre é fácil, principalmente se voltarmos nosso olhar a sociedades que foram propositalmente dizimadas, como aconteceu com os povos pré colombianos. Escavamos e nos deparamos com memórias envolvidas em mortes e disputas.

A obra Cicatrizes em Pele arqueológica simboliza memórias de uma realidade frequente no México, país da artista Betsabeé Romero. Mistura histórias possíveis de acontecer mas que desejamos enterrá-las. Mistura tempos diferentes de culturas que habitaram aquele território porém compartilham a repressão e as disputas de poder. A artista utiliza objetos que lembram rodas de prensagem e cria uma padronagem baseada em peças de sociedades pré-colombianas da coleção do museu Tropen, espaço destinado à exposição da obra. Os padrões não são estampados em papéis, as matérias escolhidas para a passagem das rodas são um pó branco e flores de papoula, dois elementos que remetem a tipos de drogas e a uma realidade mexicana, a guerra das drogas. 

O cenário de corrupção e contrabando existe na contemporaneidade mas é presente devido às cicatrizes de uma colonização avassaladora na qual a exploração era a palavra de ordem. Não havia a intenção de criar juntos, pensar o espaço respeitando quem antes lá estava. Essa lógica de dominação e opressão é replicada séculos depois, com outras ferramentas de poder e consumo, mas mantendo a desigualdade dentro do país.

As cicatrizes se mantêm no solo, no país e na vida de uma nação que vai se perpetuando. Quando chegar um futuro que desconhecemos, quais memórias serão escavadas nesses territórios que ainda são forjados através de violências e desigualdades?

As cicatrizes se mantêm no solo, no país e na vida de uma nação que vai se perpetuando. Quando chegar um futuro que desconhecemos, quais memórias serão escavadas nesses territórios que ainda são forjados através de violências e desigualdades?

Para saber mais da artista, acesse: www.betsabeeromero.com

Colírio por Julia Baker



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