Centro de estéticas (2004) – Patricia Bueno

Centro de estéticas (2004) – Patricia Bueno

Agulhas entram em sua pele. Seus pelos são arrancados causando dor e vermelhidão. Sua cabeça arde e descasca. Uma lixa grossa descama todo seu rosto, pinças puxam partes suas, você chora. As situações parecem descrever momentos de tortura, mas todas acontecem em centros de estética. Com a intenção de tornar a pessoa mais “bela” ou dentro do padrão definido na sociedade atual, passamos por práticas violentas em nossos corpos. E qual é o ideal? Baseado em um modelo europeu branco de beleza é uma estética praticamente inalcançável, principalmente se você não dispõe de certas feições ou de muito dinheiro. 

Será que esses são os corpos que realmente desejamos?

No caso das mulheres, a maior clientela dos centros, salões de beleza ou clínicas de tratamentos estéticos, o padrão ainda se relaciona com uma curta faixa etária. Para ser bela, a mulher tem que ser estática, não envelhecer, não mostrar dobras ou rugas, se transformar em uma representação, uma imagem estática sem vontades ou desejos, existe pois foi criada pelas práticas de beleza e pelo que é desejável consumir agora.

Que mulher seremos?

Na obra Centro de estéticas, a artista peruana Patricia Bueno evidencia a problemática de um padrão feminino impossível, especialmente se você é uma mulher latina. O vídeo apresenta imagens de mulheres pintando seus cabelos, sendo maquiadas, depiladas e diversos outros processos relacionados aos espaços de beleza junto com imagens pictóricas das mulheres nas artes: esculturas gregas e pinturas de nus femininos. A sobreposição de imagens, dos corpos reais com representações, nos faz questionar o que é verdadeiro e o que é apenas um desejo criado. A artista se vale de uma linguagem que nos remete a Barbara Kruger e até repete uma frase sua: “Meu corpo é um campo de batalha”. A frase, em espanhol, ganha mais uma camada de leitura. 

Exótico e selvagem são palavras ligadas ao povo peruano (não apenas nesse país, mas todo o território colonizado pelos europeus, seja nas Américas ou na África, receberam tais adjetivos em diversas instâncias), quando seus corpos são considerados campos de batalha, pensamos na escravidão e nas violências as quais foram submetidos. A carne não lhes pertencia, era comprada e vendida, se tornava propriedade de outros. Existiram batalhas para a libertação desses corpos. Mas a disputa se mantém ainda hoje, quando a bunda, o peito ou o nariz se torna uma mercadoria a ser adquirida ou melhorada.   

Patricia propõe uma reflexão potente sobre as representações do feminino e a quem elas se destinam. A partir das imagens criadas sobre a mulher, a disputa com a nossa matéria começa: com o formato da nossa boca – que pode ser aumentado com aplicações, com o tamanho de nossos quadris – que pode ser diminuído com operações, com a cor de nossos cabelos – que podem ser descoloridos e transformados, com as marcas de nossas vidas – que podem ser apagadas com agulhas ou lasers. E, ao final, nunca seremos aquela imagem pois, como coloca a artista: no es lo mismo un desnudo grego que un cholo catalo (um nu grego não é o mesmo que um indígena nu).

Para saber mais sobre a artista, acesse: http://www.patriciabueno.com/http://www.patriciabueno.com/

Colírio por Julia Baker



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