One Flew over the Void (Bala Perdida) (2005) – Javier Téllez

One Flew over the Void (Bala Perdida) (2005) – Javier Téllez

Morar nos Estados Unidos é um sonho compartilhado por milhares de pessoas. A dominação norte-americana nos comerciais e produtos culturais em geral nos faz pensar que “vencer na vida” só é possível daquele lado. É necessário estar lá para ser alguém, conseguir dinheiro e uma […]

Artista a domicilio (2012 – presente), Ana Aristimuño

Artista a domicilio (2012 – presente), Ana Aristimuño

A relação espectador artista nem sempre é direta. Quando um visitante adentra um museu ou espaço cultural, seu encontro não é com o artista e sim com a obra produzida. É inegável que, muitas vezes, o público vai atrás da obra de determinado artista, quer […]

​Scars on Archaeological Skin, 2010 – Betsabeé Romero

​Scars on Archaeological Skin, 2010 – Betsabeé Romero

Escavações arqueológicas nos apresentam objetos e resíduos de um cotidiano passado. Mas, ao procurar o solo atrás de vestígios, o que buscamos são histórias e memórias de nós. Descobrir o que se passou em um tempo passado e querer entender como chegamos nesse agora. Em épocas que o registro era oral ou de uma escrita frágil, o que nos resta é cavar e tentar fazer sentido do que é encontrado. Juntar as peças nem sempre é fácil, principalmente se voltarmos nosso olhar a sociedades que foram propositalmente dizimadas, como aconteceu com os povos pré colombianos. Escavamos e nos deparamos com memórias envolvidas em mortes e disputas.

A obra Cicatrizes em Pele arqueológica simboliza memórias de uma realidade frequente no México, país da artista Betsabeé Romero. Mistura histórias possíveis de acontecer mas que desejamos enterrá-las. Mistura tempos diferentes de culturas que habitaram aquele território porém compartilham a repressão e as disputas de poder. A artista utiliza objetos que lembram rodas de prensagem e cria uma padronagem baseada em peças de sociedades pré-colombianas da coleção do museu Tropen, espaço destinado à exposição da obra. Os padrões não são estampados em papéis, as matérias escolhidas para a passagem das rodas são um pó branco e flores de papoula, dois elementos que remetem a tipos de drogas e a uma realidade mexicana, a guerra das drogas. 

O cenário de corrupção e contrabando existe na contemporaneidade mas é presente devido às cicatrizes de uma colonização avassaladora na qual a exploração era a palavra de ordem. Não havia a intenção de criar juntos, pensar o espaço respeitando quem antes lá estava. Essa lógica de dominação e opressão é replicada séculos depois, com outras ferramentas de poder e consumo, mas mantendo a desigualdade dentro do país.

As cicatrizes se mantêm no solo, no país e na vida de uma nação que vai se perpetuando. Quando chegar um futuro que desconhecemos, quais memórias serão escavadas nesses territórios que ainda são forjados através de violências e desigualdades?

As cicatrizes se mantêm no solo, no país e na vida de uma nação que vai se perpetuando. Quando chegar um futuro que desconhecemos, quais memórias serão escavadas nesses territórios que ainda são forjados através de violências e desigualdades?

Para saber mais da artista, acesse: www.betsabeeromero.com

Colírio por Julia Baker

The Liberation of Lady J and U.B. (1998) – Renée Cox

The Liberation of Lady J and U.B. (1998) – Renée Cox

Quem são Tia Jemima e Tio Ben? Não tão populares no Brasil, esses personagens permeiam as vidas dos norte-americanos por décadas. Presentes em canções e propagandas, representa a estereotipização do povo negro em caricaturas rasas e unidimensionais, fáceis de serem compreendidas e lidas. Estavam presentes […]

Centro de estéticas (2004) – Patricia Bueno

Centro de estéticas (2004) – Patricia Bueno

Agulhas entram em sua pele. Seus pelos são arrancados causando dor e vermelhidão. Sua cabeça arde e descasca. Uma lixa grossa descama todo seu rosto, pinças puxam partes suas, você chora. As situações parecem descrever momentos de tortura, mas todas acontecem em centros de estética. […]

Sugar/Bittersweet (2010) – Maria Magdalena Campos-Pons

Sugar/Bittersweet (2010) – Maria Magdalena Campos-Pons

Sensação estranha relembrar as aulas de história nos tempos de colégio. Aprendemos sobre os ciclos econômicos do Brasil colônia como se fossem mais uma etapa do país, um momento natural, que acontecia pois o solo era fértil e pronto a ser “aproveitado”. Ciclo do pau-brasil, ouro, açúcar, café, algodão e borracha. Aconteceram misturando explorações, não apenas no solo fértil mas de pessoas escravizadas, negros e indígenas, retiradas de seus lares e obrigadas a viverem em uma lógica de trabalho e torturas cujo único fim era a morte. 

Não há como não pensar no Brasil e nessas relações quando nos deparamos com o trabalho da artista cubana Maria Magdalena Campos-Pons, Sugar/Bittersweet. No trabalho, a artista fala de seu país, Cuba e as relações de poder construídas a partir do comércio de açúcar, porém tal comércio foi presenciado em outros países da América Latina e Caribe com intensidades similares e, por isso, não consigo deixar de relacionar com o Brasil. 

Campos-Pons nasceu na cidade de La Vega, cidade com um histórico ligado às plantações de cana de açúcar. As suas memórias afetivas moldam a obra aqui apresentada. Representações de açúcar não processado envolvem lanças provindas do continente africana que descansam em pequenos bancos. A estrutura simboliza o poder criado a partir da comercialização desse bem. Afinal, quem se beneficia das plantações e venda de tal produto? Não há dúvida que o país não vê o retorno gasto com o suor dos trabalhadores nas plantações. 

A violência do capitalismo em torno do “trade” do açúcar é reproduzida nas relações raciais no país. A escolha das cores dos açúcares e vidros não processados é propositalmente associada a como as pessoas, em Cuba, são reconhecidas pela sua tonalidade de pele: branco, mulato e negro. Qual é associado com maior pureza? A violência do racismo é reconhecida no açúcar, suas cores e sua produção reproduzem relações coloniais de dominância e abuso. 

Apesar de adocicar a comida, o sabor agridoce da história do açúcar predomina na obra. 

Colírio por Julia Baker

#dominicanwomengooglesearch (2016) – Joiri Minaya

#dominicanwomengooglesearch (2016) – Joiri Minaya

Qual o imaginário que ronda a mulher caribenha? Os países da região são vendidos como paraísos tropicais, destinos de férias paradisíacas com praias de areias brancas e águas transparentes. Mas essa imagem idílica não é traduzida na realidade das ilhas. Durante séculos foram exploradas e […]

Windows (2011) – Mariela Scafati

Windows (2011) – Mariela Scafati

Janelas são parte de nossas vidas, ainda mais em momentos como o que enfrentamos recentemente, a pandemia do COVID-19. Destinados a ficar em casa por um grande período, as janelas ganharam protagonismo no cotidiano. De repente parecia que olhar através delas era sonhar com um […]

Violeta Parra (1973) – Cecilia Vicuña

Violeta Parra (1973) – Cecilia Vicuña

No dicionário, as primeiras definições da palavra herói são de uma pessoa de grande coragem ou feitos, ou um semideus, nascido a partir das relações entre um ser divino e um outro mortal. Aos heróis grandes expectativas e destaques. Na série Heróis da Revolução, a artista chilena Cecilia Vicuña retrata personagens como Karl Marx, Lenin, Fidel e Allende, todos sujeitos presentes em sua trajetória de vida. A artista, que estava estudando em Londres na época do golpe de Pinochet no Chile, seguiu em exílio durante os anos da ditadura sendo uma voz ativa contra o governo e suas práticas violentas. Os quadros citados acima foram pintados em 1972, talvez uma época em que o desejo por uma realidade menos desigual parecia palpável na vida da artista e no futuro de seu país. Assim, as figuras escolhidas podem não ser semideuses mas representavam esperança, traziam ares de mudança. Sobre a série, Cecilia mesmo declara não gostar da ideia de herói, fala da dificuldade de escolher alguns para representarem essa simbologia que nos acompanha, de um indivíduo capaz de grandes feitos. Ela diz que os pinta para rir, rir junto com eles, talvez celebrando vitórias ou escondendo tristezas de planos não concretizados.

Dentro da série destacamos a pintura de Violeta Parra pois, parafraseando Cecilia, nem todos os heróis devem ser pensadores ou guerrilheiros, são necessários também outros heróis, das invenções, das artes, do ser.  

Violeta foi muitas coisas, cantora, compositora, artista plástica e folclorista. Nasceu no Chile e, ainda criança, aprendeu, sozinha, a tocar violão. Adolescente já compunha canções e se apresentava junto com sua irmã. Em 1952/1953, decidiu mapear ritmos, danças e canções populares chilenas, promovendo o início do movimento da Nueva Canción Chilena. Enquanto artista plástica, fundou o Museu Nacional de Arte Folclórica Chilena. Ao coletar e registrar as canções populares, fez um trabalho de pesquisa importante para manter vivas as tradições de uma nação. Assim como Mário de Andrade e suas Missões, com a diferença que não era apoiada com verba pública, Violeta forneceu matéria-prima para o resgate de uma canção popular, uma canção criada no Chile profundo. 


O que faz um herói?

Pergunta sem resposta, mas Cecilia escolheu Violeta como um de seus heróis da revolução pois promoveu mudanças no cenário cultural de seu país. A imagem retrata apresenta a compositora dilacerada, seu corpo é separado em três pedaços. Sem que Cecilia soubesse, Violeta tentou tirar sua vida três vezes, alcançando seu objetivo na última tentativa. O lenço que a envolve, remete a elementos presentes em uma de suas canções mais populares, Gracias a la Vida. Na canção ela agradece ao som, a linguagem, o riso, o choro, o coração, as paisagens e todos os demais elementos que vemos envolvê-la no pano. Ao mesmo tempo que toda essa vida a envolve, é uma figura que recebemos com sofrimento, seja por conhecermos seu trágico final ou pela relação de um corpo mutilado. 

Me pergunto, sabendo a história da Violeta, se quando repete o início de seus versos na música, gracias a la vida que me ha dado tanto (obrigada à vida que tanto me deu), se o que lhe foi dado era demais para uma só pessoa pois, tudo que foi lhe dado, como representado na pintura de Cecilia, parece estar prestes a cair em cima de sua figura e escondê-la, basta apenas um vento para o pano realizar tal feito. A fragilidade do ter tudo e conseguir lidar com o que lhe é dado aparece na pintura e simboliza os percalços enfrentados na curta vida de Violeta. 

Para saber mais sobre a artista, acesse: http://www.ceciliavicuna.com/

Gracias a la vida – Violeta Parra

Colírio por Julia Baker

Cheap and Clean- Interrogating Masculinities Project (2012) – Ebony G. Patterson

Cheap and Clean- Interrogating Masculinities Project (2012) – Ebony G. Patterson

Existe um gênero de música jamaicano que, durante muito tempo, não era propagado como o ritmo da nação. Criado no gueto, o dancehall conquista, desde meados dos anos 1970, jovens com sua batida e steps elaborados. De Bogle à Latonya, Bounty Killer à Aidonia, o […]