Windows (2011) – Mariela Scafati

Windows (2011) – Mariela Scafati

Janelas são parte de nossas vidas, ainda mais em momentos como o que enfrentamos recentemente, a pandemia do COVID-19. Destinados a ficar em casa por um grande período, as janelas ganharam protagonismo no cotidiano. De repente parecia que olhar através delas era sonhar com um futuro, imaginar quando se poderia colocar os pés nas ruas em pensar em retornar logo, vislumbrar um pouco da vida dos outros, vizinhos de janelas, que transformavam seu lar em local de trabalho, lazer e descanso. Olhar pelas janelas nos ajudava a ver o tempo passar, ver a chuva cair sobre as ruas e sentir falta de ser pego de surpresa pelas gotas em um dia comum. Através do isolamento, as janelas eram palcos. Palcos de disputa política quando panelaços exigiam responsabilidade política de um desgoverno brasileiro como, também, palcos de entretenimento, quando prédios articulavam horários para todes ouvirem uma música juntos. No momento pandêmico as janelas foram protagonistas. Não só as janelas de nossas casas, como as janelas criadas nas abas dos computadores, nas telas dos monitores e celulares. E, por essas janelas eletrônicas, novas mensagens chegavam até nós. Informações e desinformações se misturavam, dependendo da janela a ser navegada, e eram compartilhadas inúmeras vezes. Quais mensagens suas janelas te proporcionaram nesse período?

Janelas (Windows) também é o nome da obra que o Colírio de hoje apresenta. Mariela Scafati, artista argentina, cria janelas de mensagens, compartilha pensamentos e questionamentos com o público que encontra sua obra. Todos os cartazes “janelas” compartilham uma cor, são variantes de vermelho, alguns tendem para o rosa, mas o pigmento está lá, presente. E tantas referências nos chegam: vermelho sangue, vermelho da esquerda, vermelho da paixão. A cor gera uma leitura antes mesmo que cheguemos as frases dos cartazes. Trouxe primeiro a cor, antes das frases para que a associação com esse elemento ficasse mais viva em nossa memória antes de examinarmos algumas frases e para compartilhar um fato sobre Scafati, ela faz parte do coletivo ativismo poético e transversal Cromoactivismo. O grupo usar a cor para criar intervenções em eventos sociais e políticos e é contra a hegemonia e padronização da cor pelo Pantone e, assim, criam novas identificações para cores que se relacionam a situações experienciadas pelos membros do coletivo. 

Os vermelhos da obra, em diferentes cartazes, trazem frases que se relacionam com experiências (ou desejos?) de Scafati.

El cuerpo barricada fluída

Agresivamente no violento

Todo el día sin luz ahora sin voz, por lo menos puedes escribir, eso no se considera voz, no?

As frases parecem compartilhar momentos do pensamento de Mariela. Pensamentos que surgem enquanto trabalhava, ou tomava o café ou fazia alguma tarefa do seu cotidiano. Frases que representam uma visão para o íntimo, assim como uma janela. No palco improvisado de um edifício, em que cada janela representa uma cena, quais frases, pensamentos, podem ser encontrados naqueles espaços? As frases que a artista compartilha conosco nos fazem pensar: e na minha janela, qual frase desejo imprimir?

Colírio por Julia Baker



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