Violeta Parra (1973) – Cecilia Vicuña

Violeta Parra (1973) – Cecilia Vicuña

No dicionário, as primeiras definições da palavra herói são de uma pessoa de grande coragem ou feitos, ou um semideus, nascido a partir das relações entre um ser divino e um outro mortal. Aos heróis grandes expectativas e destaques. Na série Heróis da Revolução, a artista chilena Cecilia Vicuña retrata personagens como Karl Marx, Lenin, Fidel e Allende, todos sujeitos presentes em sua trajetória de vida. A artista, que estava estudando em Londres na época do golpe de Pinochet no Chile, seguiu em exílio durante os anos da ditadura sendo uma voz ativa contra o governo e suas práticas violentas. Os quadros citados acima foram pintados em 1972, talvez uma época em que o desejo por uma realidade menos desigual parecia palpável na vida da artista e no futuro de seu país. Assim, as figuras escolhidas podem não ser semideuses mas representavam esperança, traziam ares de mudança. Sobre a série, Cecilia mesmo declara não gostar da ideia de herói, fala da dificuldade de escolher alguns para representarem essa simbologia que nos acompanha, de um indivíduo capaz de grandes feitos. Ela diz que os pinta para rir, rir junto com eles, talvez celebrando vitórias ou escondendo tristezas de planos não concretizados.

Dentro da série destacamos a pintura de Violeta Parra pois, parafraseando Cecilia, nem todos os heróis devem ser pensadores ou guerrilheiros, são necessários também outros heróis, das invenções, das artes, do ser.  

Violeta foi muitas coisas, cantora, compositora, artista plástica e folclorista. Nasceu no Chile e, ainda criança, aprendeu, sozinha, a tocar violão. Adolescente já compunha canções e se apresentava junto com sua irmã. Em 1952/1953, decidiu mapear ritmos, danças e canções populares chilenas, promovendo o início do movimento da Nueva Canción Chilena. Enquanto artista plástica, fundou o Museu Nacional de Arte Folclórica Chilena. Ao coletar e registrar as canções populares, fez um trabalho de pesquisa importante para manter vivas as tradições de uma nação. Assim como Mário de Andrade e suas Missões, com a diferença que não era apoiada com verba pública, Violeta forneceu matéria-prima para o resgate de uma canção popular, uma canção criada no Chile profundo. 


O que faz um herói?

Pergunta sem resposta, mas Cecilia escolheu Violeta como um de seus heróis da revolução pois promoveu mudanças no cenário cultural de seu país. A imagem retrata apresenta a compositora dilacerada, seu corpo é separado em três pedaços. Sem que Cecilia soubesse, Violeta tentou tirar sua vida três vezes, alcançando seu objetivo na última tentativa. O lenço que a envolve, remete a elementos presentes em uma de suas canções mais populares, Gracias a la Vida. Na canção ela agradece ao som, a linguagem, o riso, o choro, o coração, as paisagens e todos os demais elementos que vemos envolvê-la no pano. Ao mesmo tempo que toda essa vida a envolve, é uma figura que recebemos com sofrimento, seja por conhecermos seu trágico final ou pela relação de um corpo mutilado. 

Me pergunto, sabendo a história da Violeta, se quando repete o início de seus versos na música, gracias a la vida que me ha dado tanto (obrigada à vida que tanto me deu), se o que lhe foi dado era demais para uma só pessoa pois, tudo que foi lhe dado, como representado na pintura de Cecilia, parece estar prestes a cair em cima de sua figura e escondê-la, basta apenas um vento para o pano realizar tal feito. A fragilidade do ter tudo e conseguir lidar com o que lhe é dado aparece na pintura e simboliza os percalços enfrentados na curta vida de Violeta. 

Para saber mais sobre a artista, acesse: http://www.ceciliavicuna.com/

Gracias a la vida – Violeta Parra

Colírio por Julia Baker



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