Área Irrestrita

Área Irrestrita

Experiência Mesa n° 24 – dias 20 e 21 de setembro

Local: Rua Jogo da Bola 119, Morro da Conceição – RJ / Praça Leopoldo Martins 

Coletiva Curatorial:  Napupila

Realização: A Mesa


O limite é dado, nos é imposto. Não ultrapassar, não ocupar um espaço com seu corpo, não entrar em espaços privados, se tornar invisível. A cidade, as relações sociais e econômicas, nos restringem. Impõem condições de existência e de convivência.

Somos quase sempre levados ao cerceamento, a entender que não temos direito pleno à cidade e, até mesmo aos nossos corpos. Apesar de se colocar como uma cidade democrática, o Rio de Janeiro deixa clara suas restrições afinal, para quem funciona a malha de transporte? Quem tem direito de ir e vir na noite, na madrugada e sem receios? Alguns têm direito a cidade e, a maioria, tem direito a partes que lhes são determinadas pelas forças sociais e políticas. Mas, e se lutarmos por acabar com essas barreiras?

E se esgarçarmos o território para torná-lo pertencente a todxs? Isso funcionaria como? 

Criar uma área irrestrita, sem limitações corporais ou territoriais em que os sujeitos pudessem ir e vir. Parece fantasia mas, alguns experimentos sociais e artísticos conseguem tangenciar esse desejo e forçar novos entendimentos de espacialidade e deslocamentos.

Tentamos reunir aqui alguns exemplos da irrestrição em áreas não apenas territoriais como corporais. Afinal, o corpo é uma arma que, quando usado para combater as restrições impostas pela sociedade, pode funcionar de melhor maneira.

Trabalhos como o de Davi Benaion e Marie Carangi mostram a potencialidade do corpo, como esse instrumento consegue propor novos entendimentos de espaço e ocupação. Como o corpo pode alargar significados, se tornar amplo e múltiplo assim como quebrar estereótipos. Maya Inbar questiona o padrão masculino e coloca esse em xeque ao propor diálogos sobre o que é ser homem atualmente.

Quem é o dono da terra que o juruá (homem não indígena) loteia e precifica?  Pensando nos territórios demarcados pela política econômica na qual estamos inseridos lógica do capital Denilson Baniwa questiona a quem pertence o perímetro urbano.

CK Martinelli traz a questão de propriedade ao mostrar a destruição pelo fogo em uma das ocupações do centro de São Paulo – espaços alternativos de habitação que conclamam o direito de habitação para todxs.Quais afetos estão ligados aos prédios e terras?

A linguagem enquanto barreira e, também, a criação de preconceitos, podem ser examinadas no trabalho de Chantal Feitosa ao criar um vídeo de “aprendizado” em inglês com frases racistas que ainda repetimos cotidianamente. 

Já o trabalho coletivo de Ali Hussein Al-adawy, Daniel Santiso, Lorran Dias, Margarita del Carmen + Kristian Byskov, Max Willa Morais e Prerna Bishnoi, também coloca em destaque as barreiras e questões de nacionalidades e diálogos entre diferentes nações/comunidades.

É importante frisar, a escolha do local para a realização dessa mostra – A Mesa, no Morro da Conceição. Importante marco da construção do Rio de Janeiro, o lugar formava um quadrilátero – junto com os morros do Castelo, de Santo Antônio e de São Bento – no qual a expansão da cidade se deu a partir de sua fundação em 1565.

Porém, com as transformações urbanas e os direitos ao uso da cidade sendo entendidos apenas como pertencentes à alguns, as configurações foram alteradas, a própria arquitetura da cidade – natural e construída – se alterou, . Morros foram destruídos, avenidas foram criadas e casas foram derrubadas. A área urbana se transformou e, ainda se transforma diariamente. O pretexto é que as transformações, sanitarismo e afins são  necessários e urgentes. 

Diana Taylor (2011) comenta que, em tempos de totalitarismo e violência, o corpo imerso nas performances cotidianas se torna o grande terreno de resistência. Nesse sentido, a presente proposta incita uma arqueologia das expressividades silenciadas pelas políticas de repressão e controle, as quais nos levam a uma revisão sobre a performance política como exercício da liberdade. Trazemos a mostra para que possamos juntos reconfigurar as narrativas hegemônicas questionar e incomodar. Afinal, pensar na ocupação dos espaços públicos é também pensar o público dos espaços habitados, pensar em todas as pessoas que transitam, trabalham, militam, residem e resistem nas ruas da cidade. 

É necessário aceitar o outro, ocupar, lutar e (r)existir.  

Em memória de Marielle Franco. 

Texto da coletiva NaPupila

Ana Lobo
Julia Baker
Michaela Blanc


Artistas

Chantal Feitosa I CK Martinelli I Ali Hussein Al-adawy
I Daniel Santiso I Kristian Byskov I Lorran Dias I Margarita del Carmen I Max Willa Morais I Prerna Bishnoy I Davi Benaion I  Denilson Baniwa I Maya Inbar I Marie Carangi 


Programação:

Sexta (20/9)  

– Ação “Companhia de Gênero”, de Maya Inbar 

– Performance “Fauno”, Davi Benaion 

Sábado (21/09) 

– Conversa com alunos de arquitetura do Santa Úrsula, Correspondentes do Morro da Conceição e Coletiva NaPupila

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Fotos: Luciana Ribeiro

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Artistas


Chantal Feitosa é uma artista brasileira/ norte-americana de Queens, Nova York. Seu processo alterna entre novas mídias, colagem e prática social para abordar temas de preconceito racial, padrões de beleza e pertencimento. Em seu trabalho frequentemente recria sistemas de educação infantil, e criação de objetos. Através desses sistemas, ela está interessada em como a pedagogia, a linguagem e o humor podem existir como meios criativos para abordar narrativas de marginalização e trauma histórico. Ela recebeu seu BFA em Cinema / Animação / Vídeo da Rhode Island School of Design (RISD), com ênfase em Artes e Estudos Literários. Em 2016, ela foi co-produtora do documentário estudantil “ The Room of Silence”, Que tem sido destaque nos EUA  em publicações, exibições e conversas públicas sobre a necessidade de equidade racial no currículo da escola de arte e nas estruturas de crítica.

https://chantalfeitosa.com

Maya Inbar

Maya Inbar é educadora, artista visual, ativista, amante do corpo integral, e busca cada vez mais contracolonizar seu estar no mundo. Sua prática artística tem se voltado à micropolítica das relações e às interseções entre gênero, intimidade e economia.

Companhia de gênero é uma proposta artístico-pedagógica de Maya Inbar. Trata-se de um serviço de conversa didática para homens cis que desejam melhorar a sua relação com as mulheres, com o feminismo e com os seus próprios sentimentos. Clientes escolhem sobre o que falar, e têm uma ótima oportunidade para tirar dúvidas ou elaborar suas visões a respeito de gênero, interação com mulheres, com outros homens e o que você mais acharem relevante. Garantimos sigilo absoluto.

Normalmente os encontros têm uma duração mínima de trinta minutos, mas nas Rapidinhas da Companhia de Gênero é dada uma oportunidade única! Será possível experimentar o serviço num formato reduzido, tanto no tempo como no valor. As sessões variam de cinco a quinze minutos, e o valor varia de R$10 a R$25.

Videotongues


Videotongues é um projeto coletivo de Ali Hussein Al-adawy, Daniel Santiso, Kristian Byskov, Lorran Dias, Margarita del Carmen, Max Willa Morais e Prerna Bishnoy . A pergunta: quem é o estrangeiro? é repetida em uma cadência de sotaques pronunciados por cada um dos artistas participantes.

disponível em:https://vimeo.com/342605164

Davi Benaion 

Bailarino formado pelo Curso Técnico da Escola e Faculdade de Dança Angel Vianna. Licenciado em Dança pela Faculdade Angel Vianna. Com formação em Tai Chi Chuan pelo Instituto de Artes Marciais. Trabalha como bailarino na Os Dois Companhia de Dança desde 2016. Onde dança atualmente o Espetáculo “Castelos e Redes: estamos em obra” que estreou em junho de 2018 no SESC Copacabana. Recentemente também integra  a Companhia Dinamosfera dançando o espetáculo “Aponte”. Estreou “Fauno” seu primeiro trabalho solo em Novembro de 2018 no Teatro Cacilda Becker.

https://www.instagram.com/davibenaion/

CK Martinelli

CK Martinelli, Iniciou sua trajetória em 2009, produzindo fotografia de paisagens com câmera digital , com o passar do tempo, começa a pesquisar e aplicar a técnica de xilogravura retratando paisagens e cenas do cotidiano. Gradativamente vem trabalhando em diversos processos: fotografia digital, pinhole, vídeo arte, pintura, lambe-lambe, mobile picture. Trabalha em séries fotográficas, produzindo uma linguagem contemporânea da fotografia, e utiliza diversas características e materiais para o processo de pesquisa artístico

https://www.instagram.com/ckmartinelli/

Denilson Baniwa 

Do povo indígena Baniwa é natural do Rio Negro, interior do Amazonas. É artista visual e atualmente reside no Rio de Janeiro. Seus trabalhos expressam sua vivência enquanto ser indígena do tempo presente, mesclando referências tradicionais e contemporâneas indígenas e se apropriando de ícones ocidentais para comunicar o pensamento e a luta dos povos originários em diversos suportes e linguagens como canvas, instalações, meios digitais e performances. O curso da investigação/pesquisa prática de Maria vem sido guiado pelos deslocamentos físicos e simbólicos inerentes à condição de mulher estrangeira. A sua pesquisa apresenta-se em forma de fotografias, vídeos, instalações e ações participativas em diferentes espaços público-estéticos, nos quais o seu corpo costuma ser o principal suporte e objeto de trabalho. Através de diferentes práticas do campo da arte, pesquisa e problematiza sobre a sua trajetória nômade, a relacionalidade intercultural, o consumo, a mídia de massa, a desterritorialização e a possibilidade de sociabilizar ou criar comunidades efêmeras aleatoriamente a partir de uma ação determinada.

https://www.behance.net/denilsonbaniwa


Marie Carangi

Enquanto linguagem trabalha com vídeo, performance, instalação e experiências em som sugerindo ligações entre corpo, movimento, noções de espaço e auto-imagem. Tem realizado as pesquisas em “performance-serviço” com o trabalho Peluqueria Carangi – no “Lesbian Bar” de Fernando Peres -, onde libertava seu cabelo crespo de químicos alisantes; Corte estilo guilhotina;  e Gritofonia. Na “performance-show” Teta Lírica, Carangi ativa o som do teremim – instrumento musical que cria sonoridades através do atrito – a partir do movimento de seus seios. Em 2018, estava entre os dez ganhadores, da 6º edição do Prêmio EDP nas Artes, do Instituto Tomie Ohtake e do Instituto EDP, que tem como a finalidade estimular a produção de jovens artistas contemporâneos do Brasil. Na abertura da exposição do prêmio, apresentou Tetaço geral, de 2018. Tendo sido contemplada com uma bolsa de residência artística internacional no Hangar – Centro de Investigação Artística, em Lisboa, Portugal. Na imagem, Tetográficas, 2018. 

https://cargocollective.com/umabrasileiraqualquer

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Napupila https://www.facebook.com/napupila/  

Experiência Mesa https://www.facebook.com/pg/experienciamesa



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